Em Paraíso, Paula Febbe traz à tona um romance desgastado. Que pode ser pelo tempo ou pela morte. Por uma pandemia ou pelo que continuaria igual. Pela verdade ou por um pesadelo.
A autora de Relato inspirado por orelhas, Mãos secas com apenas duas folhas, Metástase, As vantagens que encontrei na morte de meu pai, Não, e O sarau inconsciente de um alter ego esquizofrênico, já teve três de seus livros entre os mais vendidos na Amazon.
A mariposa morta está parada dentro do abajur que tem uma entrada por não sei onde. Eu deveria tirar ela lá de dentro para que o corpo morto dela não queimasse mais cada vez que eu acendo a luz, mas não consigo. Talvez eu queira deixá-la presa no abajur. Talvez eu esteja sentindo certa familiaridade. Meu corpo queima cada vez que acendo a minha luz, também.
Caminho pelo apartamento que sempre foi vazio, mas parece mais vazio do que sempre foi.
A presença que um dia foi trazida por ele, não pareceu sustentar o que eu poderia querer.
Achei que as coisas poderiam estar diferentes.
As coisas estavam diferentes.
Porém, tenho certeza de que se eu perguntasse para ele, ele diria que não percebeu. Ou que toda minha percepção havia sido um mal-entendido.
Estranho.
Minha percepção só parecia entender as coisas erroneamente quando diziam respeito a ele.
Talvez as desculpas que eu dizia a mim mesma estivessem me desfazendo.
Era claro o que havia mudado.
Claro como água.
Mas eu não queria ver, não é?
Queria que tivesse sido diferente, não é?
Por isso as tantas mesmas perguntas repetidas de mim para mim mesma, tantas e tantas vezes, como esperança das respostas mudarem.